Capitulo 49
Parei em frente a um prédio chique de Higienópolis e me senti deslocada. Isso não vai dar certo. Estava usando um jeans surrado e o meu All Star favorito, uma roupa apropriada para passar uma “noite com as meninas” vendo UFC – imaginei. Só que eu nunca tinha ido na casa da Mia. Mal sabia direito onde era, tive que jogar o endereço no Google. Aí descobri, um pouco tarde demais, que ela morava numa mansão. Ou quase isso. Não que fosse difícil morar melhor do que eu e o Fernando, claro. O nosso prédio ficava no meio sujo de uma das principais bocas da cidade. E a minha roupa estava muito mais apropriada para aquilo do que para aquele edifício imenso que claramente tinha apenas um apartamento por andar.
Depois de uma certa espera, fui atendida na porta pela mãe da Mia. E imediatamente percebi de onde a filha havia puxado os seus “atributos”. How you doin’, mommy?, pensei e ri. Entrei muito bem-recebida e ela me apresentou brevemente o apartamento. Então me levou até o quarto onde estavam as meninas. Eram seis, incluindo a Mia, e todas estavam aos berros com a televisão. Apostando que nem umas loucas e zombando dos caras no ringue, aos gritos, embriagadas de tanta cerveja. As latinhas e os baldes de pipoca já vazios lotavam o chão, espalhados.
Eu estava claramente atrasada.
As lutas já haviam começado há algum tempo. Sentei ao lado da Mia e me diverti observando as reações empolgadas dela a cada soco ou joelhada. Aquilo era diversão de primeira classe: ver um grupo de mulheres bonitas gritando palavrões e enchendo a cara. Maravilhosas. A Mia me explicava quem eram os lutadores, conforme eles apareciam. Eu não sabia bosta nenhuma sobre UFC. Ou qualquer outro esporte – mas estava adorando.
Era difícil entender como me comportar ali. Com a Mia, especificamente perto das amigas dela. Fui me soltando aos poucos e as horas passaram voando. Levantei para buscar mais cerveja na geladeira – o último de quatro engradados – e fiquei perdida pelo apartamento por alguns segundos. A cozinha ficava do outro lado da sala de estar e, em minha defesa, posso afirmar que a porta estava posicionada em um lugar nada a ver. Debrucei-me sobre a geladeira e ouvi a Mia entrando. Ela me abraçou por trás, apoiando os braços nos meus ombros, ao redor do meu pescoço.
_Precisa de ajuda? – perguntou, soando bêbada e feliz.
Respirei fundo. Aquilo acabava comigo. Todo aquele “contato” com ela. Acho que a Mia sequer se dava conta e toda vez o meu coração disparava, bastava a sua pele encostar na minha. Por mais casualmente que fosse. O fato é que nós andávamos nos encostando mais nos últimos tempos. Muito mais do que o normal. Ela me abraçava, segurava a minha mão, me olhava de perto, apoiava a cabeça no meu ombro enquanto víamos TV, essas coisas de amiga patricinha no colégio. E acabávamos encostando também os ombros, as pernas, os pés. Era como se estivéssemos nos esbarrando inconscientemente.
E, com plena consciência da minha falta de controle, isso podia se tornar um problema.
Às vezes, eu não sabia o que pensar. Sentia que ela tinha desenvolvido algum tipo de afeição por mim – que não era só um lance de amiga, mas também não chegava a ser romântico. Menos ainda sexual. Eu não entendia, por exemplo, quando ela resolvia entrelaçar secretamente os seus dedos nos meus, por debaixo da almofada para as amigas não perceberem. Todos aqueles sinais ambíguos vindos dela – indiretos demais, subjetivos demais. Tudo me levava a crer que aquela era uma tentativa real dela de me provocar. Só que não era.
E isso me enlouquecia. A dúvida. Os joguinhos. O vai e num vai. Toda a porra daquela discrição. Tudo. Era uma tortura, o tempo todo.
Mas eu não queria que ela parasse.
Depois de uma certa espera, fui atendida na porta pela mãe da Mia. E imediatamente percebi de onde a filha havia puxado os seus “atributos”. How you doin’, mommy?, pensei e ri. Entrei muito bem-recebida e ela me apresentou brevemente o apartamento. Então me levou até o quarto onde estavam as meninas. Eram seis, incluindo a Mia, e todas estavam aos berros com a televisão. Apostando que nem umas loucas e zombando dos caras no ringue, aos gritos, embriagadas de tanta cerveja. As latinhas e os baldes de pipoca já vazios lotavam o chão, espalhados.
Eu estava claramente atrasada.
As lutas já haviam começado há algum tempo. Sentei ao lado da Mia e me diverti observando as reações empolgadas dela a cada soco ou joelhada. Aquilo era diversão de primeira classe: ver um grupo de mulheres bonitas gritando palavrões e enchendo a cara. Maravilhosas. A Mia me explicava quem eram os lutadores, conforme eles apareciam. Eu não sabia bosta nenhuma sobre UFC. Ou qualquer outro esporte – mas estava adorando.
Era difícil entender como me comportar ali. Com a Mia, especificamente perto das amigas dela. Fui me soltando aos poucos e as horas passaram voando. Levantei para buscar mais cerveja na geladeira – o último de quatro engradados – e fiquei perdida pelo apartamento por alguns segundos. A cozinha ficava do outro lado da sala de estar e, em minha defesa, posso afirmar que a porta estava posicionada em um lugar nada a ver. Debrucei-me sobre a geladeira e ouvi a Mia entrando. Ela me abraçou por trás, apoiando os braços nos meus ombros, ao redor do meu pescoço.
_Precisa de ajuda? – perguntou, soando bêbada e feliz.
Respirei fundo. Aquilo acabava comigo. Todo aquele “contato” com ela. Acho que a Mia sequer se dava conta e toda vez o meu coração disparava, bastava a sua pele encostar na minha. Por mais casualmente que fosse. O fato é que nós andávamos nos encostando mais nos últimos tempos. Muito mais do que o normal. Ela me abraçava, segurava a minha mão, me olhava de perto, apoiava a cabeça no meu ombro enquanto víamos TV, essas coisas de amiga patricinha no colégio. E acabávamos encostando também os ombros, as pernas, os pés. Era como se estivéssemos nos esbarrando inconscientemente.
E, com plena consciência da minha falta de controle, isso podia se tornar um problema.
Às vezes, eu não sabia o que pensar. Sentia que ela tinha desenvolvido algum tipo de afeição por mim – que não era só um lance de amiga, mas também não chegava a ser romântico. Menos ainda sexual. Eu não entendia, por exemplo, quando ela resolvia entrelaçar secretamente os seus dedos nos meus, por debaixo da almofada para as amigas não perceberem. Todos aqueles sinais ambíguos vindos dela – indiretos demais, subjetivos demais. Tudo me levava a crer que aquela era uma tentativa real dela de me provocar. Só que não era.
E isso me enlouquecia. A dúvida. Os joguinhos. O vai e num vai. Toda a porra daquela discrição. Tudo. Era uma tortura, o tempo todo.
Mas eu não queria que ela parasse.